quinta-feira, 12 de junho de 2008

Jornalismo Político: história e processo


SEABRA, Roberto. Jornalismo Político: história e processo. In _________, SOUSA, Vivaldo (org.). Jornalismo Político: teoria, história e técnicas. Rio de Janeiro: Editora Record, 2006, p.111-140.

 
(Resenhado por Eline da Silva Reis, estudante do 7º período de Jornalismo do Centro de Ensino Unificado de Teresina – CEUT.)

Roberto Seabra nasceu em Brasília. É jornalista e professor e Comunicação. Foi repórter do Correio Braziliense, assessor de imprensa em vários órgãos governamentais e chefe de reportagem da Agência Brasil. É mestre em comunicação pela Universidade de Brasília e professor do Centro Universitário de Brasília (UniCEUB).

Seabra se baseia na obra de historiadores como Nelson Werneck Sodré, Francisco Iglésias e de profissionais do jornalismo como Samuel Wainer e Jose Marques de Melo, além da própria experiência como jornalista para elaborar uma síntese dos principais fatos da política do País e faz um paralelo com o surgimento do jornalismo político nacional. Destacando a relação existente entre política e jornalismo.

Na introdução do seu artigo sobre a história e prática do jornalismo político no Brasil o autor ressalta que é importante que o jornalista conheça a história do País e do Mundo para bem executar o seu trabalho. Esse conhecimento plural (que abrange a história política, econômica e cultural) é o alicerce para que o profissional compreenda de forma ampla os acontecimentos atuais.

O autor do trabalho relata que a imprensa nacional surgiu em 1808, quando a Família Real veio ao Brasil e D. João VI criou, através de um decreto, a Imprensa Régia, dedicada à publicação da Legislação e dos Papéis Diplomáticos da Realeza. Um mês mais tarde nasceu o jornal Correio Braziliense, editado pelo brasileiro José Hipólito da Costa em Londres. A falta de estrutura política consistente, de liberdade de imprensa e de universidades explicam o fato do primeiro jornal do Brasil não ter sido escrito aqui.

Em 1820 a Revolução do Porto obriga D. João VI retornar à Metrópole, fato que favoreceu a formação de uma cúpula política autêntica e que mais tarde desencadearia o processo de Independência do País. Esse momento foi propício para que a imprensa nacional dialogasse entre si. Favoreceu também o surgimento de jornais livres que escreviam sobre política e defendiam idéias revolucionárias.

Após a conquista de sua Independência em setembro de 1822 foi promulgada a Constituição nacional de 1824. Entre outras determinações a Constituição previa a liberdade de imprensa.

O Período Regencial (1831-1840) foi marcado por disputas políticas e rebeliões provocadas por três facções político-ideológicas: os Liberais Radicais, os Moderados e os Restauradores, cada um com seus jornais cujo conteúdo era bastante agressivo. Temos aí a chamada imprensa marrom. Tais disputas resultaram na cristalização de dois grupos políticos: o Conservador e o Liberal, ambos oriundos da Aristocracia. Paralelamente, houve a consolidação da imprensa conservadora e da imprensa liberal, que nas décadas de 50 e 60 do século XIX trabalharam unicamente e até em aliança para consolidar os interesses aristocratas.

A luta pelo fim da Escravidão e pelo Brasil República são os dois ideais que impulsionam a atividade jornalística da época.

A campanha abolicionista, que com fim da Guerra do Paraguai em 1870 ganha impulso; e a campanha republicana. As duas voltam a exigir um jornalismo engajado, menos panfletário do que aquele feito nas primeiras décadas do século, mas com a mesma capacidade de mobilização. (SEABRA, 2006, p.122)

Nesse período pode-se notar uma forte aproximação entre jornalismo e literatura, datam dessa época nomes de literatos e jornalistas como; Rui Barbosa, Quintino Bacaiúva, José Veríssimo, José de Alencar e outros.

Durante o Governo dos Militares (1889-1894), Política dos Governadores (1894-1930) se manteve viva, mas sob certa censura, a imprensa dicotômica: de um lado defendia a elite agroexportadora (tradicionalista) e de outro a que defendia a classe média da sociedade. Para essa imprensa só havia dois caminhos: defender ou se opor ao poder instituído, não havia espaço para uma imprensa independente.

O jornalismo praticamente desapareceu com a Revolução de 1930 e ascensão de Getúlio Vargas ao Poder. Isso só mudaria em 1945, com o fim da Segunda Guerra Mundial e conseqüente declínio do Estado Novo.

De 1945 até 1964 o jornalismo viveu seu auge. O desenvolvimento social, econômico, cultural e a tão desejada liberdade de imprensa levou o Brasil a adotar o modelo jornalístico norte-americano, o jornalismo objetivo. É também nesse período que o jornalismo político partidária dá lugar ao jornalismo político voltado para análise e interpretação dos fatos.

Em 1964 o Golpe Militar, apoiado pelos jornalistas pôs fim aos “anos de ouro” dessa classe. Foram duas décadas de censura total. Era proibido escrever ou falar sobre qualquer coisa que tivesse relação com aqueles que faziam oposição a “Revolução” (SEABRA, 2006, p.131). Foi durante a Ditadura que aconteceu o Milagre Econômico, esse fato incentivou o desenvolvimento de um jornalismo especializado, o econômico, que foi tomando o lugar do jornalismo político.

Aos poucos o jornalismo político conseguiu retomar sua força e passou a denunciar os “equívocos da Ditadura e de seus aliados,” dando espaço também para a nascente oposição falar sobre suas propostas. Em 1984, o grande movimento das “Diretas Já”, apoiado por praticamente toda a imprensa nacional, resultou no fim da Ditadura Militar.

A imprensa teve importante papel no processo de redemocratização do Brasil. Registrou todos os acontecimentos políticos pós-ditadura; desde a eleição à presidente de Tancredo Neves até a eleição e reeleição do presidente Lula, em 2002 e 2006, respectivamente.

Segundo Roberto Seabra, as eleições de 2002 foi um momento em que ele pode observar coincidência total entre jornalismo e política. Contudo, não julga que este seja o padrão do jornalismo político atual. Seabra finaliza seu trabalho destacando o real objetivo do jornalismo, que deve ser; informar, formar opinião e fiscalizar. E lança alguns questionamentos para que se possa analisar o jornalismo que se tem praticado atualmente.

O artigo de Roberto Seabra é uma relevante fonte pesquisa para aqueles que pretendem se debruçar na compreensão da relação que se estabelece entre jornalismo e política. Ele percorre de forma sucinta a história política do País e destaca as influências que esses acontecimentos tiveram no desenvolvimento da imprensa nacional e da atividade que denominamos jornalismo político.SEABRA, Roberto. 

Nenhum comentário:

Postar um comentário